sexta-feira, 12 de março de 2010

OFICINA CRIATIVA: Quem é Alice para você?

“A Lagarta e Alice olharam-se uma para outra por algum tempo em silêncio: por fim, a Lagarta tirou o narguilé da boca, e dirigiu-se à menina com uma voz lânguida, sonolenta.
“Quem é você?”, perguntou a Lagarta. Não era uma maneira encorajadora de iniciar uma conversa. Alice retrucou, bastante timidamente: “Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.” 
Alice no Pais das Maravilhas 
 
 
Quem é Alice? Quem é você? 
 
 
 
Alice no país das Maravilhas (1865) de Lewis Carroll é um grande desafio. Paradoxos, nonsense, labirinto de sonhos. Como num grande jogo, a proposta da oficina é a recriação do personagem Alice de Alice no País das Maravilhas através de técnicas de colagem, um procedimento poético efetuado com elementos extraídos de desenhos impressos em livros, revistas e jornais, fotografias, imagens de propaganda e retalhos visuais. O caráter enigmático e o nonsense do sonho de Alice encontra na colagem um terreno propício, numa lógica que aponta para outro sentido, que deve ser buscado entre fragmentos e associações inesperadas. Inicialmente haverá uma breve apresentação de algumas imagens de Alice, segundo ilustradores e artistas de diferentes épocas e linguagens. Cada participante seleciona então imagens diversas para serem trabalhadas e recriadas plasticamente, extrapolando as características puramente ilustrativas e descritivas do personagem, buscando uma configuração múltipla, híbrida e metamorfica, numa proposta de exploração do sentido do personagem segundo os repertórios pessoais e afetivos. A colagem no surrealismo teve expressão máxima na obra de Max Ernst, que desenvolveu a concepção surrealista da collage a partir da famosa imagem de Lautréamont do encontro de um guarda chuva e uma máquina de costura sobre uma mesa de dissecação, como o “acoplamento de duas realidades aparentemente inacopláveis sobre um plano que aparentemente não lhes convém.” Ocorre que o artista reconfigura o objeto em uma nova realidade, segundo Max Ernst, “para transformar em dramas reveladores dos seus mais secretos desejos o que antes não passava de vulgares páginas de publicidade.” Escolhemos a colagem como um exercício de produção de novos sentidos, em que Alice no Pais das Maravilhas seja um convite para novas viagens. É importante que os participantes já tenham algum contato prévio com a obra e tragam imagens pessoais que relacionem com o livro para serem retrabalhadas plasticamente.  
 
“Agora, que chegaste à idade avançada de quinze anos, Maria da Graça, eu te dou este livro: Alice no País das Maravilhas. Este livro é doido, Maria. Isto é: o sentido dele está em ti.” Paulo Mendes Campos

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